segunda-feira, 25 de julho de 2011

Lobão








LETRA COMENTADA / "Rádio Blá" (83)
Por Leonardo Davino (24/03/2010)


João Luíz Woerdenbag Filho, o Lobão, desde que surgiu como artista, ainda antes da Vímana e da Blitz já movimentava a cena musical, como deixa saber na biografia 50 anos a mil. Seja através de participações como músico, seja pelas composições de sucesso, seja através de declarações e atitudes de impacto.
Como exemplo disso, vale lembrar a querela amorosa entre Lobão (que compôs "Para o mano Caetano") e Caetano Veloso (que respondeu com "Lobão tem razão").


O homem que uniu belamente o samba com o rock no disco Cuidado! (1988), em "Rádio Blá", de Tavinho Paes, Armando Brandão e Lobão, apresenta a balada gostosa de uma paixão paranóica: cheia de taras e receios.


Uma possível chave de leitura de "Rádio Blá" (Vida bandida, 1987) é atravessada pela questão: A paixão não tem nada a ver com a vontade? Ou seja, estar apaixonado é estar no lugar onde a razão não tem razão? O fato é que não dá para querer se apaixonar: "A paixão não tem nada a ver com a vontade. Quando bate é o alarme de um louco desejo", diz.


O sujeito parece responder a isso listando os efeitos colaterais do arrebatamento que o outro de vida burguesa, aparentemente incapaz de se deixar levar pela paixão apesar da vontade, provoca. "Ela adora me fazer de otário para entre amigas ter o que falar", diz.


Não dá para controlar, não dá para planejar. O lance é ligar o rádio e eu te amo: assumir as inseguranças e as vontades; mergulhar nas subjetividades românticas dos blá-blá-blás das canções: enlouquecer e perder-se.






"Rádio Blá" (Tavinho Paes / Armando Brandão / Lobão)


Ela adora me fazer de otário
Para entre amigas ter o que falar
É a onda da paixão paranóica
Praticando sexo como jogo de azar


Uma noite ela me disse "quero me apaixonar"
Como quem pede desculpas pra si mesmo
A paixão não tem nada a ver com a vontade
Quando bate é o alarme de um louco desejo
Não dá para controlar, não dá
Não dá pra planejar


Eu ligo o rádio
E blá, blá, blá, blá, blá, blá
Eu te amo


Sua vida burguesa é um romance
Um roteiro de intrigas
Pra Fellini filmar
Cercada de drogas, de amigos inúteis
Ninguém pensaria que ela quer namorar


Reconheço que ela me deixa inseguro
Sou louco por ela e não sei o que falar
O que eu quero é que ela quebre a minha rotina
Que fique comigo e deseje me amar


*Pesquisador e ensaísta, mestre em Literatura Brasileira, com projeto de doutorado sobre Canção e Teoria da Literatura.


[ Fonte: 365cancoes.blogspot.com ]


[ Editado por Pedro Jorge ]







Nota: Aguardem postagem completa.

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